Rede de Judiarias
Muito cedo, as gentes de São João da Pesqueira assumiram um lugar de destaque na construção do reino português, quer homem de valor que aqui tiveram berço, quer pelos excelentes produtos agrícolas como o vinho e o azeite, embaixadores maiores de Portugal. Nessa evolução, iniciada há séculos, teve especial importância a comunidade judaica e cristã-nova de São João da Pesqueira pelo que, ciente desse valor, o município entendeu ser essencial, a da mais elementar justiça, estudar, valorizar, e divulgar a sua História.
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Os Judeus no Concelho de S. João da Pesqueira
O concelho de São João da Pesqueira é um território de extraordinária beleza, limitado a norte pelo rio Douro, que o banha e lhe imprime magnificência, a sul pela pureza dos veios de granito da Beira e a nascente e poente pelas linhas de altura de um relevo tumultuoso interrompido por declives profundos.
A sua especial localização e a forte influência do rio Douro conferem a este território uma riqueza ambiental única, cuja importância é refletida na elevada diversidade paisagística, a que os valores da natureza e a ação do Homem proporcionaram contrastes especiais. Estamos no verdadeiro coração do Douro, em terra que é Património Cultural da Humanidade.
Muito cedo, as gentes de São João da Pesqueira assumiram um lugar de destaque na construção do reino português, quer homem de valor que aqui tiveram berço, quer pelos excelentes produtos agrícolas como o vinho e o azeite, embaixadores maiores de Portugal. Nessa evolução, iniciada há séculos, teve especial importância a comunidade judaica e cristã-nova de São João da Pesqueira pelo que, ciente desse valor, o município entendeu ser essencial, a da mais elementar justiça, estudar, valorizar, e divulgar a sua História, facultando-a a todos quantos pretendam descobrir esse capítulo.
Nesse sentido, foi desenvolvido um projeto turístico-cultural que visa aproximar os munícipes à sua História e asseverar o concelho de São João da Pesqueira como um novo destino de turismo cultural e religioso. Para acompanhar e orientar a descoberta, disponibiliza-se este guia turístico que, em conjunto com uma série de mapas interativos, disponíveis em www.sjpesqueira.pt/turismo, constituem um importante apoio nessa viagem pela nossa História.
O projeto designado de “ Alay Zayit – A redescobrir a Sefarad ’ouro” ( alay zayit significa ramo de oliveira e Sefarad designa a Península Ibérica na tradição judaica) veio preencher uma lacuna no conhecimento da História local. Numa primeira fase, inventariaram-se locais de estabelecimento das antigas famílias judias e cristãs-novas, identificaram-se tradições ancestrais de origem judaica e descobriram-se documentos, dispersos pelos arquivos nacionais e internacionais.
Ao implementar este projeto turístico-cultural, São João da Pesqueira posiciona-se entre os principais municípios que procuram defender o património urbanístico, arquitetónico, ambiental, histórico e cultural relacionado com a herança judaica e cristã-nova, congregando a valorização histórica e patrimonial com a promoção turística, fazendo jus à sua tradição de terra e paz e de povo bem-aventurado.
Assim, a adesão do município de São João da Pesqueira à Rede de Judiarias de Portugal – Rotas de Sefarad, em 2016, foi um importante passo para a concretização da vontade em resgatar e das a conhecer o passado e a herança judaica e cristã-nova do concelho de São João da Pesqueira.
S. João da Pesqueira
Os documentos mais antigos fazem recuar as notícias da sua presença à primeira metade do século XV. Entre os anos de 1441 e 1445 contavam-se entre os naturais do concelho, Moisés Salam (1441), Isaac Salam (1441), José Barzalai (1441), Abraão Gabey (1442), Abraão Serrano (1451), Jacob Serrano (1455) David Tomias (1455), David Nemias (1455), entre outros. A estes homens, que aqui perdem o anonimato, o rei Afonso V concedeu um conjunto de importantes privilégios. E não eram só estes homens, com eles existiam famílias, mulheres e filhos que desconhecemos, mas que existiram e compunham a comunidade judaica pesqueirense.
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Os Judeus em S. João da Pesqueira
A vila encantada do coração do Douro guarda segredos mais antigos que os vinhedos que cobrem os seus montes e colinas. Esta é uma terra de bênçãos para os homens de boa vontade. Há mais de mil anos que, nesta terra frutuosa, existem povoados de gente simples, cujas mãos, sangue e suor moldaram os montes ásperos em verdadeiros jardins de vinhedos.
Em momento ignorado, os primeiros judeus estabeleceram-se em São João da Pesqueira, movidos pelas mesmas razões que trouxeram outros crentes. Os documentos mais antigos fazem recuar as notícias da sua presença à primeira metade do século XV. Entre os anos de 1441 e 1445 contavam-se entre os naturais do concelho, Moisés Salam (1441), Isaac Salam (1441), José Barzalai (1441), Abraão Gabey (1442), Abraão Serrano (1451), Jacob Serrano (1455) David Tomias (1455), David Nemias (1455), entre outros. A estes homens, que aqui perdem o anonimato, o rei Afonso V concedeu um conjunto de importantes privilégios.
E não eram só estes homens, com eles existiam famílias, mulheres e filhos que desconhecemos, mas que existiram e compunham a comunidade judaica pesqueirense. Habitavam a vila, tranquilamente, num bairro específico que, segundo a tradição local, começa na Rua dos Gatos e se alargava às suas travessas e azinhagas que hoje desconhecemos. Pela configuração actual da Rua dos Gatos adivinhamos que as casas acompanhavam a antiga muralha da vila, próximas da zona mercantil.
Desconhecemos se o bairro judaico teria portas à entrada da rua que se fechavam à noite, à semelhança das judiarias de Trancoso ou Lamego. Talvez tivessem existido. De manhã, abrindo-se as portas da judiaria, judeus e cristãos frequentavam os mesmos espaços, conviviam, faziam o seu quotidiano em comum. A perceção da existência de uma judiaria não era necessariamente negativa, pois para a comunidade judaica permitia-lhe manter a coesão, as suas leis, os seus costumes, enfim, protegia-os. Hoje é difícil acreditar que estas ruas calmas, onde habitaram as famílias judias, testemunharam de um momento para o outro cenas terríveis de perseguição e crueldade.
No ano de 1492, os reis católicos de Espanha decretaram a expulsão dos judeus e, na fuga, alguns alcançaram São João da Pesqueira. Mal sabiam que, daí a quatro anos, o horror da perseguição aos judeus havia de se alastrar a Portugal. Em Dezembro de 1496, a comunidade judaica sentiu os efeitos do decreto de expulsão manuelino. Atemorizados, uns partiram enquanto outros não conseguiram escapar, tendo sido obrigados a converter-se ao cristianismo. Para sobreviverem, tiveram que criar novas identidades e foram muitas as práticas e os códigos secreto que criaram para manter viva a sua fé.
A comunidade de cristãos-novos de São João da Pesqueira era muito importante para o rei D. Manuel I e, por isso, antes da chegada da Inquisição a Portugal, emitiu-lhes dois diplomas, em 1521, pouco tempo antes da sua morte.
Segundo esses decretos régios, os cristãos-novos não podiam ser presos no julgado de São João da Pesqueira e tinham o privilégio de se proporem ou serem eleitos para cargos concelhios, caso tivessem sido eleitos, além disso equiparavam-nos aos cristãos-velhos em relação a certos impostos e a aposentadoria.
A Inquisição entrou em São João da Pesqueira em Janeiro de 1548. A comunidade cristã-nova foi vítima das primeiras prisões por culpas de judaísmo e, nas décadas seguintes, os processos elevaram-se a mais de uma centena.
Uma das primeiras acusadas, em 1548, foi Branca Nunes, de 60 anos, que acabou por perder a vida nas chamas do auto de fé de 12 de Julho de 1551. Pouco tempo depois, Violante Rodrigues, de 40 anos, após três anos de cárcere, encontrou a morte no auto de fé de 9 de Março de 1567.
A Rua dos Gatos confunde-se com as origens da vila, pois são muitos os pesqueirenses que não hesitam em apontá-la como o local do seu nascimento. Outros há que a remetem logo para a herança judaica e cristã-nova pesqueirense. De resto, o seu aspeto labiríntico, pitoresco e antigo faz da Rua dos Gatos um dos locais mais genuínos de São João da Pesqueira, que demanda por uma visita demorada, de encontro e de diálogo entre cada um de nós e a História.
Riodades
Desde a posição de fronteira que teve à interioridade de hoje em dia, a aldeia de Riodades não perdeu relevância, especialmente, para todos os que aqui tiveram o desígnio de encontrar um rumo para as suas vidas, como sucedeu com os judeus e, mais tarde, com os cristãos-novos.
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Os Judeus em Riodades
Riodades é terra de paz e de fé. As paisagens alegres em redor brindam a jovial aldeia com uma frescura primaveril e todo o seu encanto surge aos olhos do visitante como um quadro delicioso. O miradouro da Senhora da Alegria é o melhor local para contemplar a serenidade desta pitoresca aldeia, de matizes diversos das paisagens do Douro e da Beira que, desde há séculos, tem sido refúgio para tantas vidas.
A sua proximidade com a vila de Paredes da Beira, de cujo termo fazia parte, mas também com as vilas de Trevões, São João da Pesqueira, Penedono, Sendim, entre outras, ditou grande parte da sua história. Estabelecida na margem do rio Távora foi, desde os tempos fundacionais, uma terra cruzada por peregrinos e almocreves que, seguindo caminhos ancestrais, deixaram um importante contributo para o seu desenvolvimento.
Desde a posição de fronteira que teve à interioridade de hoje em dia, a aldeia de Riodades não perdeu relevância, especialmente, para todos os que aqui tiveram o desígnio de encontrar um rumo para as suas vidas, como sucedeu com os judeus e, mais tarde, com os cristãos-novos.
A documentação histórica revela-nos que as famílias cristãs-novas integravam-se e apoiavam-se entre si, numa rede de solidariedade de parentescos dispersa pelas aldeias vizinhas, como em Trevões, Castainço e Sendim. Entre os seus descendentes, destacam-se o desembargador e jurisconsulto António Rebelo da Fonseca Leitão, que seguiu o gosto pelas leis, como os seus antepassados cristãos-novos, da linhagem dos Rebelos e dos Fonseca. Também se notabilizou nas Letras o seu filho, Francisco Rebelo, apurado poeta do seu tempo.
Riodades sempre foi um importante local de passagem, não só pela travessia do Távora, corporizada pela ponte que ainda hoje se mantém, mas também por estar na rota da peregrinação ao santuário da Lapa. Contudo, a proximidade de Riodades à vila de Paredes, sede do antiquíssimo concelho medieval a cujo termo pertencia, comprometeu o seu desenvolvimento, bem expresso no rendimento do cura que recebia 8 000 reis contrastando com os 50 000 reis recebidos em Nagoselo ou em Valongo dos Azeites.
Hoje, ainda subsistem antigas marcas simbólicas da religiosidade judaica e cristã, gravadas a ferro nas fachadas das antigas moradas, reveladoras de um passado sofrido, de suspeita e medo, mas também de convivência e conciliação. São as marcas das mezuzot (pl. de mezuzah), cruciformes mágico-religiosos, inscrições e traços de uma arquitectura tardo-medieval que sobreviveram ao tempo e que esperam ser redescobertas por cada um de nós.
Vilarouco e Pereiros
Marcadamente rural, a graciosa aldeia dos Pereiros espera de braços abertos os visitantes para lhes revelar os segredos que ainda se guardam nos seus recantos. Segundo uma tradição local, a aldeia dos Pereiros terá nascido no lugar de Covas, onde existiu uma aldeia durante a idade média e que foi abandonada pelos seus habitantes que se vieram estabelecer nos Pereiros.
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Os Judeus em Vilarouco e Pereiros
Marcadamente rural, a graciosa aldeia dos Pereiros espera de braços abertos os visitantes para lhes revelar os segredos que ainda se guardam nos seus recantos.
Segundo uma tradição local, a aldeia dos Pereiros terá nascido no lugar de Covas, onde existiu uma aldeia durante a idade média e que foi abandonada pelos seus habitantes que se vieram estabelecer nos Pereiros. A aldeia é pequena, rodeada por vários campos agrícolas onde sobressaem a amendoeira, o sobreiro e a oliveira.
Pereiros também teve os seus filhos cristãos-novos, como os descendentes das famílias Costa e Sobral, entre outras. Ainda que não haja certeza das suas moradas, a verdade é que subsistem alguns vestígios de herança judaica e cristã-nova na aldeia, como inscrições simbólicas e sinais mágico-religiosos.
Hoje, os Pereiros estão unidos administrativamente ao Vilarouco, constituindo uma só freguesia, mas as suas histórias cruzam-se desde há séculos, sobretudo no que respeita às famílias cristãs-novas.
Apesar de ainda não terem sido encontrados, no Vilarouco, vestígios enquadráveis no conjunto do património cultural de herança judaica e cristã-nova, permanecem muitos ecos da presença de famílias de credo mosaico. Atualmente, ainda existe a crença que certas famílias seriam «hebreus», vindos de Vila Nova de Foz Côa, e foram os antepassados de muitos dos que se dedicaram a atividades artesanais, como os sapateiros.
Dessa crença e tradição oral, os vilarouquenses fazem notar que, desses tempos antigos, se mantiveram sobrenomes de família como Abraão e Raquel e alcunhas como «Rabi». Ao que parece, deixaram descendentes sobretudo entre duas famílias: os Sousa e os Costa. Além disso, o epíteto de sumagreiros, que persiste nos nossos dias, denúncia uma das atividades mais importantes a que os vilarouquenses se dedicavam e que cujo circuito comercial era detido, curiosamente, por cristãos-novos dispersos entre São João da Pesqueira, Porto, Lamego, Tabuaço, Mirandela e Torre de Moncorvo.
Da presença e vivências dos «hebreus» nos Pereiros e no Vilarouco ainda se colhem hábitos muito ligados aos costumes judaicos, principalmente na gastronomia, como os biscoitos almendrados e os redondinhos ou caladinhos.
Castanheiro do Sul
Aqui, os vestígios de herança judaica não são numerosos, contrastando com as localidades vizinhas, pois só se identifica uma antiga morada, mas a beleza das suas paisagens naturais incentivam o passeio e a descoberta dos antigos caminhos que conduziram o êxodo sefardita que vindo de nascente, atravessou o rio Távora, até ao ábdito.
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Os Judeus em Castanheiro do Sul
Antiga sede de concelho, extinto em 1855, a vila de Castanheiro do Sul assume, actualmente, os contornos político-administrativos de uma das mais importantes freguesias do concelho de São João da Pesqueira. A sua posição e a fertilidade dos seus terrenos em “centeio, azeite e muito bom vinho” desde cedo agradaram aos monges cistercienses de São Pedro das Águias que alargaram a sua influência e autoridade a esta terra.
A vila de Castanheiro, enquanto concelho, compreendia os lugares da Espinhosa e do Pereiro (hoje pertencente ao concelho de Tabuaço) e era uma nullius diocesis (não pertencia à diocese, embora constituísse um território eclesiástico semelhante a uma) pelo que o abade de São Pedro das Águias tinha sobre Castanheiro os mesmos poderes que um bispo, podendo conferir ministérios e confirmações.
Aqui, os vestígios de herança judaica não são numerosos, contrastando com as localidades vizinhas, pois só se identifica uma antiga morada, mas a beleza das suas paisagens naturais incentivam o passeio e a descoberta dos antigos caminhos que conduziram o êxodo sefardita que vindo de nascente, atravessou o rio Távora, até ao ábdito.
Paredes da Beira
Desde cedo estas terras atraíram os homens que buscavam uma vida melhor. Veio a nobreza, o povo e, entre eles, famílias de credo mosaico que mais tarde se fizeram cristãos-novos, como Diogo de Almeida que acabou preso, em 17 de Junho de 1729, por culpas de judaísmo, bem como outros familiares. O mesmo sucedeu com João Rodrigues Espinosa, seu genro António da Fonseca e sua esposa Primavera Rodrigues, todos cristãos-novos, que foram presos pela Inquisição e que viram os seus bens arrestados e vendidos na praça pública, em 2 de Fevereiro de 1620. Estes eram parentes do famoso Baruch Espinoza. E outros houve.
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Os Judeus em Paredes da Beira
Com pergaminhos mais antigos que a Nacionalidade, a vila de Paredes da Beira bem pode ufanar-se de constar nos anais da história como um dos concelhos contemplados com o primeiro foral atribuído a terras que viviam a ser portuguesas.
Determinado o seu estabelecimento por mão da natureza, o vetusto casario da localidade contorna as faldas de um maciço rochoso onde foi fincada uma muralha com mais de mil anos, dando espaço às terras férteis e aplanadas, voltadas ao sul. Diz a tradição local, que o seu topónimo se ficou a dever ao rei Fernando, o magno, aquando da reconquista cristã que, tendo a conquistado, a apelidou de terra de Paredes da Beira por existirem aqui muitas ruínas. Na verdade, aqui existem numerosos sítios e vestígios arqueológicos da maior importância e de verdadeira raridade.
Desde cedo estas terras atraíram os homens que buscavam uma vida melhor. Veio a nobreza, o povo e, entre eles, famílias de credo mosaico que mais tarde se fizeram cristãos-novos, como Diogo de Almeida que acabou preso, em 17 de Junho de 1729, por culpas de judaísmo, bem como outros familiares. O mesmo sucedeu com João Rodrigues Espinosa, seu genro António da Fonseca e sua esposa Primavera Rodrigues, todos cristãos-novos, que foram presos pela Inquisição e que viram os seus bens arrestados e vendidos na praça pública, em 2 de Fevereiro de 1620. Estes eram parentes do famoso Baruch Espinoza. E outros houve.
Durante o período medieval, Paredes da Beira era um pequeno concelho rural, longe das cidades, com acessos eram difíceis, mas com muitas razões para que os judeus do reino se estabelecessem e, mais tarde, os judeus expulsos de Castela também aqui procurassem refúgio. Da presença, das vidas, daqueles que apostataram a sua Fé e dos que a continuaram a praticar em segredo, ficaram as suas antigas moradias onde continuam a ecoar memórias das suas crenças, das suas vivências e dos vestígios mágico-religiosos relacionados com a sua fé, gravados nos vãos dos portais e em tantos recantos secretos que merecem ser descobertos e protegidos por todos nós.
Várzea de Trevões
Antiga sede de concelho, que se dizia ter um “termo muito pequeno”, a aldeia da Várzea de Trevões chegou a possuir setenta famílias, mas desconhece-se quantas delas teriam origens judaicas ou relações de parentesco com cristãos-novos, já que não possuímos documentação que possa ajudar a esclarecer a questão.
Na estreita vila da Várzea de Trevões, há a registar a existência de três importantes vestígios, entre os quais se destaca uma pitoresca habitação seiscentista, onde se conserva uma inscrição que ainda guarda muitos segredos dos tempos dos cristãos-novos.
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Os Judeus em Várzea de Trevões
Estabelecida numa encosta, a pouca distância da vila de Trevões, a localidade da Várzea ou Vargeas, como era conhecida, prima por possuir uma paisagem natural de rara beleza em seu redor.
Antiga sede de concelho, que se dizia ter um “termo muito pequeno”, a aldeia da Várzea de Trevões chegou a possuir setenta famílias, mas desconhece-se quantas delas teriam origens judaicas ou relações de parentesco com cristãos-novos, já que não possuímos documentação que possa ajudar a esclarecer a questão.
Terra fértil, os autores seiscentistas e setecentistas mencionam a qualidade do seu pão e do seu azeite e, especialmente, os “muitos e bons sumagres” que eram cultivados para produzir um pó utilizado no curtimento de peles de animais, em tinturaria e até na medicina. Desde períodos antigos, sabe-se que era enviado para a cidade do Porto e depois vendido para várias partes da Europa.
Na estreita vila da Várzea de Trevões, há a registar a existência de três importantes vestígios, entre os quais se destaca uma pitoresca habitação seiscentista, onde se conserva uma inscrição que ainda guarda muitos segredos dos tempos dos cristãos-novos.
Trevões
A presença judaica na vila de Trevões é conhecida desde o final da Idade Média.
No ano de 1304, o rei D. Dinis criou, por seu mandado, a feira de Trevões, franca de três dias, e logo se tornou numa das feiras mais concorridas da região. Fruto do movimento comercial, acercaram-se por aqui os primeiros judeus e, pelo crepúsculo da Idade Média, ter-se-ão estabelecido na zona que se apelida de Rua dos Gatos, e suas travessas, que correspondem a um dos núcleos habitacionais mais antigos da freguesia.
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Os Judeus em Trevões
A presença judaica na vila de Trevões é conhecida desde o final da Idade Média.
No ano de 1304, o rei D. Dinis criou, por seu mandado, a feira de Trevões, franca de três dias, e logo se tornou numa das feiras mais concorridas da região. Fruto do movimento comercial, acercaram-se por aqui os primeiros judeus e, pelo crepúsculo da Idade Média, ter-se-ão estabelecido na zona que se apelida de Rua dos Gatos, e suas travessas, que correspondem a um dos núcleos habitacionais mais antigos da freguesia.
O número de indivíduos de credo mosaico talvez tenha sido muito incrementado após o decreto de expulsão de Castela, mas a escassa documentação não permite, por agora, grandes conclusões. Por outro lado e para uma cronologia mais moderna, entre os séculos XVI-XVIII, a riqueza da documentação permite concluir que, em Trevões, se contavam numerosos descendentes de famílias judias, entre os seus naturais. Na maioria dos casos, eram indivíduos que constituíam uma pequena elite local.
No inverno de 1558 a Santa Inquisição entrou em Trevões executando as primeiras ordens de prisão por culpas de judaísmo, semeando o medo e a desconfiança. Mas foi durante os séculos XVI e XVII que o tribunal do Santo Ofício esteve mais ativo. Jovens e menos jovens foram levados para os carceres e, em pouquíssimo tempo, as prisões elevaram-se as dezenas. Só no ano de 1618 foram presos 23 indivíduos, muitos deles com relações de parentesco entre si.
As famílias Rebelo, Fonseca, Carvalho-Cardoso, Lourenço, Mesquita, Dias, Henriques e Mendes foram muito perseguidas. Entre os acusados de judaizarem contavam-se advogados, bacharéis em leis, muitos mercadores, sapateiros e simples agricultores, todos cristãos-novos, que viram as suas famílias serem destruídas e os seus bens espoliados.
Desses tempos, permanecem em Trevões vestígios da herança judaica e cristã-nova, como as suas antigas moradas, muitas com marcas cruciformes mágico-religiosas, sinais de cristianização forçada.
A sua descoberta é obrigatória, bem como fazer uma visita ao Museu de Trevões onde se guardam duas pequenas lamparinas certamente de tradição e ritual judaico ou criptojudaico, do mesmo modelo utilizado pela comunidade judaica de Belmonte. Mas principalmente, venham caminhar pelas ruas sossegadas, sentir e perscrutar os lamentos desses tempos.
Nagoselo do Douro
Da presença de antigas famílias judias e cristãs-novas por estas bandas pouco se sabe. Subsistem, todavia, nas ruas e nas fachadas de certas habitações, traços antigos que nos remetem para o tempo dos cristãos-novos. São elementos arquitetónicos autênticos, da época de setecentos, que ainda se exibem nas fachadas, das quais sobressaem três antigas habitações localizadas na parte mais ancestral da povoação: duas na rua do Outeiro e outro na rua do Loureiro.
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Os Judeus em Nagoselo do Douro
Com uma paisagem de inigualável beleza, comprovada por todos quantos a visitam, a aldeia de Nagoselo é um lugar encantado. Admirada a partir do rio ou de um miradouro, de aquém e de além Douro, pode o visitante descansar os olhos na sua natureza extraordinária e sossegar a alma nas tradições genuínas e nos costumes diferentes.
Da presença de antigas famílias judias e cristãs-novas por estas bandas pouco se sabe. Subsistem, todavia, nas ruas e nas fachadas de certas habitações, traços antigos que nos remetem para o tempo dos cristãos-novos. São elementos arquitetónicos autênticos, da época de setecentos, que ainda se exibem nas fachadas, das quais sobressaem três antigas habitações localizadas na parte mais ancestral da povoação: duas na rua do Outeiro e outro na rua do Loureiro.
Se a materialidade pouco revela da presença de judeus e cristãos-novos, tal não significa que Nagoselo não tivesse sido por eles calcorreada, pois existe um largo e longo caminho a percorrer na reconstrução da história desta comunidade. De resto, a riqueza desta terra, os negócios e a proximidade à vila de São João da Pesqueira, onde habitava uma importante comunidade judaica, obrigaram os negociantes ou tratantes judeus e, mais tarde, cristãos-novos, a percorrer os caminhos poeirentos para recolher, trocar e vender produtos de qualidade, como o azeite ou o sumagre. É que nesse tempo, antes de São João da Pesqueira ser um concelho vinhateiro, Nagoselo era mais terra de azeite do que de vinho, e contam-nos os documentos antigos que “faltando elle [o azeite] há muita falta e necessidade na terra”. O vinho não abundava, a terra era de “pobreza e lemitassam”, pelo que aqueles que a almocrevavam foram os que mais vida insuflaram à economia débil e, talvez sem saber, semearam um futuro melhor.
Visitar Nagoselo é receber uma lição de história única.
Espinhosa
A presença de valores naturais importantes como o vinho e o azeite bastaram para aqui se fixarem as gentes, entre as quais se contavam famílias de credo judaico e cristãs-novas, que deixaram ficar marcas na arquitetura de algumas construções e parte dos seus saberes nas tradições locais. Reconstruídas e remodeladas através dos tempos, chegaram até nós alguns exemplares de habitações seiscentistas e setecentistas que contribuem para a graciosidade da aldeia. No largo da Moreira, mantem-se uma habitação curiosa, que reclama por uma visita, com elementos vulgares das construções dos cristãos-novos. E venha descobrir as candeias que ainda se penduram junto à porta!
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Os Judeus em Espinhosa
A Espinhosa do Douro é uma das mais pitorescas freguesias do concelho de São João da Pesqueira. Antigo lugar do concelho do Castanheiro, depois freguesia com seu termo, hoje extinta e agregada a Trevões, a Espinhosa é uma localidade que seduz de imediato o visitante pela paisagem envolvente, que se assemelha a um mar de verde, cujos montes se afiguram ser ondas de um mar revoltoso.
A presença de valores naturais importantes como o vinho e o azeite bastaram para aqui se fixarem as gentes, entre as quais se contavam famílias de credo judaico e cristãs-novas, que deixaram ficar marcas na arquitetura de algumas construções e parte dos seus saberes nas tradições locais. Reconstruídas e remodeladas através dos tempos, chegaram até nós alguns exemplares de habitações seiscentistas e setecentistas que contribuem para a graciosidade da aldeia. No largo da Moreira, mantem-se uma habitação curiosa, que reclama por uma visita, com elementos vulgares das construções dos cristãos-novos. E venha descobrir as candeias que ainda se penduram junto à porta!
A Espinhosa é um lugar sereno, resguardado do mundo e de braços abertos. Foi entre os seus montes e campinas que, pelo menos desde o final da Idade Média, muitos procuraram por aqui refúgio, como Pero Fernandes, homem baço (mulato), por forro, que no ano de 1492 veio para aqui viver, com casa e fazenda e com os seus filhos, por esta ser terra de esperança. Mais tarde, também aqui teve berço, no ano de 1607, Filipe de Távora, filho de Isabel Rodrigues e António de Távora, que foi preso pela Inquisição, em 23 de Junho de 1670, por culpas de judaísmo e que, passados três anos, foi absolvido e solto da prisão.
Aqui, entre a tranquilidade dada pelo tempo que passa devagar, há que descobrir os recantos e as vidas secretas das nossas gentes.